sábado, 19 de março de 2016

Dia Litúrgico: Domingo de Ramos (C) - Evangelho (Lc 22,14—23,56) - 20.03.2016

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Meditando o Evangelho de hoje

Evangelho (Lc 22,14—23,56)

Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: «Ardentemente desejei comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer. Pois eu vos digo que não mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus». Então pegou o cálice, deu graças e disse: «Recebei este cálice e fazei passar entre vós; pois eu vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus».

A seguir, tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: «Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim». Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós». Todavia, a mão de quem vai me entregar está perto de mim, nesta mesa. Sim, o Filho do Homem se vai, como está determinado. Mas ai daquele por quem ele é entregue».

Então começaram a perguntar uns aos outros qual deles haveria de fazer tal coisa. Ora, houve uma discussão entre eles sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus, porém, lhes disse: «Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem chamar benfeitores. Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo. Afinal, quem é o maior: o que está à mesa ou o que está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois aqueles que permaneceram comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino, eu também vos confio o Reino. Havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e vos sentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel».

«Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos». Simão disse: «Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte!». Jesus, porém, respondeu: «Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces».

E Jesus lhes perguntou: «Quando vos enviei sem bolsa, sem sacola, sem sandálias, faltou-vos alguma coisa?». Eles responderam: «Nada». Jesus continuou: «Agora, porém, quem tiver bolsa, pegue-a; do mesmo modo, quem tiver sacola; e quem não tiver espada, venda o manto para comprar uma. Pois eu vos digo: é preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura: ‘Ele foi contado entre os transgressores’. O que foi dito a meu respeito está se consumando». Mas eles disseram: «Senhor, aqui estão duas espadas!». Jesus respondeu: «Basta!».

Jesus saiu e, como de costume, foi para o monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: «Orai para não cairdes em tentação» Então afastou-se dali, à distância de um arremesso de pedra, e, de joelhos, começou a orar. «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!». Apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. Entrando em agonia, Jesus orava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão. Levantando-se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza. E perguntou-lhes: «Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para não cairdes em tentação».

Jesus ainda falava, quando chegou uma multidão. Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas, que se aproximou de Jesus para beijá-lo. Jesus lhe disse: «Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?». Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: «Senhor, vamos atacá-los com a espada?». E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, ordenou: «Deixai, basta!» E tocando a orelha do homem, o curou. Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos comandantes da guarda do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-lo: «Saístes com espadas e paus, como se eu fosse um bandido? Todos os dias eu estava convosco no templo, e nunca levantastes a mão contra mim. Mas esta é a vossa hora, e o poder das trevas».

Eles prenderam Jesus e o levaram, conduzindo-o à residência do sumo sacerdote. Pedro acompanhava de longe. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo; encarou-o bem e disse: «Este aqui também estava com ele!». Mas ele negou: «Mulher, eu nem o conheço!». Pouco depois, um outro viu Pedro e disse: «Tu também és um deles.” Mas Pedro respondeu: “Não, homem, eu não». Passou mais ou menos uma hora, e um outro insistia: « Certamente, este aqui também estava com ele, pois é galileu!». Mas Pedro respondeu: «Homem, não sei de que estás falando!». E, enquanto ainda falava, o galo cantou. Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: «Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás». Então Pedro saiu do pátio e pôs-se a chorar amargamente.

Os homens que vigiavam Jesus escarneciam dele e o espancavam. Cobriam o seu rosto e lhe diziam: «Profetiza! Quem é que te bateu?». E o insultavam de muitos outros modos.

Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas reuniram-se e levaram Jesus ao sinédrio. E o interpelavam: «Se tu és o Cristo, dize-nos!» Ele respondeu: «Se eu vos disser, não me acreditareis, e se eu vos fizer perguntas, não me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Todo-Poderoso». Então todos perguntaram: «Tu és, portanto, o Filho de Deus?». Jesus respondeu: «Vós mesmos estais dizendo que eu sou!». Eles disseram: «Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de sua própria boca!».

Em seguida, toda o grupo deles se levantou, e levaram Jesus a Pilatos. Começaram então a acusá-lo, dizendo: «Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo, proibindo pagar os tributos a César e afirmando ser ele mesmo o Cristo, o Rei». Pilatos o interrogou: «Tu és o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu: «Tu o dizes!». Então Pilatos disse aos sumos sacerdotes e à multidão: «Não encontro neste homem nenhum crime». Eles, porém, insistiam: «Ele agita o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde iniciou, até aqui». Quando ouviu isto, Pilatos perguntou: «Este homem é galileu?». E, depois de verificar que Jesus estava sob a autoridade de Herodes, enviou-o a este, pois também Herodes estava em Jerusalém naqueles dias.

Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-lo. Já ouvira falar a seu respeito e esperava vê-lo fazer algum milagre. Ele interrogou-o com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondia. Os sumos sacerdotes e os escribas estavam presentes e o acusavam com insistência. Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo, zombou dele, vestiu-o com uma roupa vistosa e mandou-o de volta a Pilatos. Naquele dia, Herodes e Pilatos se tornaram amigos, pois antes eram inimigos.

Então Pilatos convocou os sumos sacerdotes, as autoridades e o povo, e lhes disse: «Vós me trouxestes este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Já o interroguei diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais; nem Herodes encontrou, pois o mandou de volta para nós. Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-lo e depois o soltarei». Toda a multidão começou a gritar: «Fora com ele! Solta-nos Barrabás!». Barrabás tinha sido preso por causa de uma rebelião na cidade e por homicídio. Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. Mas eles gritavam mais alto: «Crucifica-o! Crucifica-o!». E Pilatos falou pela terceira vez: «Que mal fez este homem? Não encontrei nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo e depois o soltarei». Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria deles prevaleceu. Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam ( aquele que fora preso por rebelião e homicídio ) e entregou Jesus à vontade deles.

Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e mandaram-no carregar a cruz atrás de Jesus. Seguia-o uma grande multidão do povo, bem como de mulheres que batiam no peito e choravam por ele. Jesus, porém, voltou-se para elas e disse: “Mulheres de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. Então começarão a pedir às montanhas: ‘Caí sobre nós!’, e às colinas: ‘Escondei-nos!’ Pois, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?».

Levavam também dois malfeitores para serem executados com ele. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!». Repartiram então suas vestes tirando a sorte. O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: «A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Eleito!». Os soldados também zombavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre e diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!». Acima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos Judeus».

Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: «Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!». Mas o outro o repreendeu: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal». E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar». Ele lhe respondeu: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso».

Já era mais ou menos meio-dia, e uma escuridão cobriu toda a terra até às três da tarde, pois o sol parou de brilhar. O véu do Santuário rasgou-se pelo meio, e Jesus deu um forte grito: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Dizendo isto, expirou.

O centurião, vendo o que acontecera, glorificou a Deus dizendo: «Realmente! Este homem era justo!». E as multidões que tinham acorrido para assistir à cena, viram o que havia acontecido e foram embora, batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galiléia, se mantinham a distância, olhando essas coisas.

Havia um homem bom e justo, chamado José, membro do sinédrio, o qual não tinha aprovado a decisão nem a ação dos outros membros. Ele era de Arimatéia, uma cidade da Judéia, e esperava a vinda do Reino de Deus. José foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era dia de preparação, e o sábado estava para começar. As mulheres que com Jesus vieram da Galiléia, acompanharam José e observaram o túmulo e o modo como o corpo ali era colocado. Depois voltaram para casa e prepararam perfumes e bálsamos. E, no sábado, repousaram, segundo o preceito.

«Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!»
Fray Josep Mª MASSANA i Mola OFM 
(Barcelona, Espanha)

Hoje, lemos o relato da Paixão segundo São Lucas. Neste evangelista, os ramos gozosos da entrada em Jerusalém e o relato da Paixão estão relacionados entre si, embora a primeira situação seja de triunfo e a segunda de humilhação.

Jesus chega a Jerusalém como rei messiânico, humilde e pacífico, em atitude de serviço, e não como um rei temporal que usa e abusa do seu poder. A cruz é o trono desde onde reina (não lhe falta a coroa real), amando e perdoando. Com efeito, o Evangelho de Lucas pode resumir-se dizendo que revela o amor de Jesus manifestado na misericórdia e no perdão.

Perdão e misericórdia que se revelam durante toda a vida de Jesus, mas que se fazem sentir de modo evidente quando Jesus é pregado na cruz. Quão significativas são as três palavras, pronunciadas na cruz, que ouvimos hoje dos lábios de Jesus!:

—Ele ama e perdoa até aos seus verdugos: «Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem (Lc 23,34).

—Ao ladrão que está à sua direita e Lhe pede que se recorde dele no Reino, também lhe perdoa e o salva: «Hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23,43).

—Jesus perdoa e ama principalmente no momento da Sua entrega, quando exclama: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,46).

É esta a última lição do Mestre desde a cruz: a misericórdia e o perdão, frutos do amor. A nós custa-nos tanto perdoar! Mas se fizermos a experiência do amor de Jesus que nos desculpa, nos perdoa e nos salva, não nos custará tanto olhar todos com uma ternura que perdoa com amor, e absolve sem mesquinhez.

São Francisco assim o exprime no seu Cântico das Criaturas: «Louvado sejas, Senhor, por aqueles que perdoam pelo Teu amor».

«Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor(Lc 19,38)»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench 
(Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, a Missa começa com a benção das palmeiras e a processão do ingresso no templo. Assim, o Domingo de Ramos relembra a entrada “triunfal” de Cristo-Rei na Cidade Santa, poucos dias antes de sua Paixão. É sua última e definitiva subida a Jerusalém: esta ascensão terminará na Cruz. Poucos dias antes, o Mestre ressuscitou Lázaro e na cidade havia uma grande expectativa.

Hoje Jesus se apresenta ante nós na condição de Rei. Esta vez sim, Ele permite que as pessoas o aclamem como Rei. A Sexta-feira Santa confirmará sua condição real ante Pôncio Pilatos, máxima autoridade civil do lugar. Mas, seu reinado não é mundano. Assim o fez saber ao governador e, assim nos o ensina hoje.

Efetivamente, Ele é Rei dos pobres: chega «montado num jumento, num burrico, filhote de jumenta» assim como anunciou o profeta Zacarias (Za 9,9). «Não chega em uma luxuosa carroça real, nem a cavalo, como os grandes do mundo, mas sobre o lombo de um jumento que lhe fora emprestado» (Bento XVI). E, é que Deus sempre agiu com suavidade: Quando chegou ao mundo (um estábulo, uma manjedoura, umas fraldas); quando “marchou-se” do mundo (um jumento, uma cruz, um túmulo). Tudo com total delicadeza, como para não nos assustar nem incomodar nossa liberdade.

Com este Rei «Sua palavra é de paz para as nações» e «vai dispensar todas as armas de guerra» (Za 9,10). Sim, Cristo converterá a cruz em “armas dispensadas”; a Cruz já não servirá como instrumento de tortura, burla e execução, senão como trono desde o qual reinará dando a vida pelos demais.

Finalmente, as multidões o recebem aclamando: «Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!» (Lc 19,38). Aquele dia seguramente foram alguns milhares; no século XXI somos muitos milhões as vozes que «vai de um mar até o outro, do rio Eufrates até a extremidade do país» (Za 9,10) lhe entoamos no “Sanctus” da missa. «Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana no céu».

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